quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

OS ANIMAIS DE ANDRÓMEDA

PANTERA
KGÇLFKG
KFÇLDKF
A pantera é um tipo de leopardo cujas pintas são tão difíceis de distinguir que a sua cor parece quase sólido preto.
LFºÇD
Os leopardos em geral são grandes felinos extremamente graciosos e poderosos, da família dos leões, tigres e jaguares. Habitam a África sub-sariana e o Nordeste deste continente, a Ásia central, Índia e China. No entanto, muitas das suas populações estão em perigo, sobretudo em território não africano.
ºGǺ~FG
O leopardo é tão forte e desloca-se com tanta facilidade pelas árvores, que frequentemente transporta as suas presas para os seus ramos. Arrastar animais de grande porte desta forma tem por objectivo mantê-los a salvo de “ladrões” como as hienas. Os leopardos podem também caçar do topo de árvores, onde a sua pele pintalgada serve como uma eficaz camuflagem entre a folhagem, até ao momento em que saltam inesperadamente para caçar a sua presa. Estes caçadores nocturnos também perseguem antílopes, veados e javalis movendo-se sinuosamente através de erva alta. Quando existe presença humana, é frequente os leopardos atacarem cães e, ocasionalmente, pessoas. Os leopardos são também nadadores exímios, sentindo-se perfeitamente à vontade na água, onde por vezes se alimentam de peixe ou caranguejos.
ºFÇGºF
As fêmeas podem dar à luz em qualquer altura do ano. Habitualmente têm duas crias de pêlo acinzentado com pintas vagamente visíveis. A mãe esconde as suas crias e transporta-as de um local seguro para outro, até terem idade suficiente para brincar e aprender a caçar. As crias vivem com as suas mães cerca de 2 anos e esta é a única altura das suas respectivas vidas em que os leopardos vivem em “comunidade”. De resto, são animais solitários.
GǺ~FÇG
A maioria dos leopardos tem o pêlo claro com pintas escuras bem distintas, chamadas rosetas, porque se assemelham à forma de rosas.
Os leopardos negros ou panteras são mais pequenos que os leopardos normais. O padrão pintalgado é visível de determinados ângulos, onde o efeito se assemelha a seda. A mistura de cor nas panteras é uma combinação de cinzento escuro azulado e roxo, com rosetas. As panteras conseguem caçar animais com um peso superior ao seu em cerca de 600 quilos, mas isto é raro dada a feroz competição que sofrem por parte de tigres e leões.

FKLºÇFD
Felina
Feroz
Impiedosa
Veloz
djfkldj
Mortífera
Matreira
Caçadora
Sorrateira
jfdjgkl
Silenciosa
Sedosa
Aveludada
Dissimulada
fjdkljf
Pantera
Poderosa
Negra
Maravilhosa
FLKGÇLFK

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 24 (cont.)

Capítulo 7. MY SIN, MY SOUL
ºçlgºçflg
Era como se ela constituisse uma peça que praticasse todas as noites e que, pela repetição do exercício, começasse a desvendar-lhe segredos insuspeitos até há poucas semanas atrás, mas que agora se tornavam cada vez mais claros. Apesar de acreditar em Deus, não era de forma alguma religioso e, no entanto, a sombra de uma ideia começara a imiscuir-se lentamente nas profundidades do seu interior, sem que ele tivesse reparado e agora essa ideia instalara-se de repente no decorrer dos seus dias solitários, sobretudo antes de adormecer. Era com ela que se debatia nesse preciso momento, querendo afastá-la mas ao mesmo tempo sem fazer um esforço muito grande para que isso acontecesse.
Emily era na realidade uma emanação espiritual dos seus pais, enviada para cumprir a tradição familiar e permitir-lhe criar e interpretar a sinfonia humana que era a sua voz. Mas esta sinfonia muito particular era composta por intrincadas combinações de palavras e gestos e expressões e vivências contidas nessa voz, e não só. Ele também fazia parte dela. Ia fazendo parte, como se constituísse uma daquelas variações que os músicos talentosos gostam de realizar sobre as obras dos seus compositores favoritos. Emily era a sinfonia em bruto e ele era o intérprete que, trazendo os seus gestos, as suas palavras, as suas emoções e a sua vida, a enriquecia e criava uma nova e pessoal variação de Emily.
Soltou um sorriso desdenhoso na escuridão, sem conseguir perceber a origem de ideia tão absurda, nem querer sequer aprofundá-la demasiado. Mas por que raio estaria a perder tempo com aquela pindérica, quando não tencionava prolongar a sua estadia neste mundo mais do que uns quantos meses, se tanto? Para quê dar-se ao trabalho de lhe passar ridículos trabalhos de casa e fazê-la perder tempo com pesquisas sobre autores que, de qualquer das formas, seriam sempre demasiado eruditos e complicados para as suas capacidades intelectuais?
Mas antes sequer de ter tido tempo para deixar estes pensamentos fermentarem alguns momentos no seu cérebro, a resposta emergiu clara e límpida na sua mente, tal e qual a outra ideia absurda, paralisando-o com a sua absoluta e quase matemática inevitabilidade – não poderia morrer sem terminar a sua sinfonia e, sendo filho de quem era, não poderia terminá-la sem que tivesse dispendido todos os esforços para torná-la o mais próximo possível da perfeição. E qualquer tentativa para racionalizar esta conclusão tornava-se completamente inútil. A ideia fazia parte daquele estranho grupo de ideias que parecem moldadas em pedra para a eternidade por uma mente superior infinitamente mais sábia e omnipotente.
çgjfçlkjg
"De manhã, ao romper do dia, por entre as pálpebras entreabertas viu-o levantar-se, apertar ao corpo a correia de couro e abrir a porta. Ali, parou. Queria e não queria partir. Voltou-se, olhou a cama, deu um passo hesitante, aproximou-se mais e inclinou-se. No quarto ainda estava escuro, e ele debruçou-se como se quisesse ver e tocar a mulher. Tinha a mão direita na cintura, e a esquerda sobre o queixo e a boca.
A mulher, deitada, imóvel, com os cabelos a ocultarem-lhe os seios nus, olhava por entre os cílios e todo o seu corpo tremia.
Os lábios do jovem moveram-se:
- Maria …
Mas, ao ouvir a sua própria voz, foi tomado pelo pavor; de um salto atingiu novamente a porta, atravessou o pátio a correr, puxou o ferrolho da porta da rua …
Então, Maria Madalena sentou-se bruscamente no leito, atirou para um lado os lençóis e começou a chorar." (37)

lkglkf
No dia seguinte, Clara surpreendeu-o com uma entrada repentina na biblioteca, a meio da tarde, pouco depois do almoço. E, como de costume, torneou o assunto:
“Não sabia que a biblioteca desta casa agora passou a ser pública.”
“Ah, sim. Emprestei-lhe uns livros. Algum problema?”
“Não, nenhum, se não pretendes reavê-los.”
“Clara, deixa-te de histerias. Confio nela. E está avisada. Ela não é estúpida e podes ficar descansada porque, de qualquer das maneiras, o seu cérebrozinho nem sequer consegue atingir o valor do que está a levar emprestado.”
“Primeiras edições, algumas delas autografadas? Duvido que o teu novo animal de estimação seja assim tão ingénuo.”
Soltou uma gargalhada.
“Animal de estimação? Ela é assim tão bonita, Clara?”
Silêncio repentino. Percebeu que ela tinha aberto a boca para dizer qualquer coisa, mas que a fechara novamente. Também sabia que ela estava morta por perceber se a curiosidade dele era mais forte do que o seu orgulho, mas que nunca lhe iria oferecer essa carta de bandeja.
“Já percebi que sim.”, sorriu, “Só não consigo decidir-me quanto à cor dos olhos. Azuis como os teus, ou castanhos como os meus?”
kgçlfg
(37) A Última Tentação de Cristo - Nikos Kazantzakis

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Passo os dedos pelo dicionário ao acaso e aterro em ...

DECORO
kjlk

kfçldk
Desde o tempo de Adão e Eva que o Homem aprendeu o significado de Decoro.
Proteger as partes íntimas ou corar quando as não conseguimos ocultar, eis o ancestral dilema inculcado por centenas de anos de repressões.
Quem nunca teve o típico pesadelo de estar nu perante uma audiência que ri e nos aponta o dedo selvaticamente, fazendo troça do nosso corpo assim desprotegido, assim revelado arbitrariamente?
E quem não sonha sempre em adiantar sofregamente a roda inexorável do tempo até ao momento em que a intimidade com o outro nos permite finalmente mandar o decoro às urtigas e partilhar como viemos ao mundo esse mundo secreto feito a 2 ... ou a 3 ... ou a mais ...?
kfjgklf
Mas o decoro não é apenas o dos nossos corpos. Também o das palavras, que as há ditas indecorosas, proibidas, obscenas, que ferem as regras da boa educação ou as normas da sociedade dita decente. E quem nunca despejou um chorrilho de imprecações nauseabundas em segredo contra outro alguém, que atire a primeira pedra.
E por isso as nossas crianças são indecorosas - nelas não existe vergonha, nem do corpo, nem das palavras. Nelas existe a descoberta de um e das outras, como exploradores autênticos e inocentes, querendo deter-se em cada pormenor, em cada detalhe de uma forma e de uma linguagem novas e surpreendentes.
A vergonha é, pois, ensinada e aprendida. Não deves aparecer nu diante de estranhos. Não deves tocar-te, isso é feio. Não digas asneiras. Não comas de boca aberta. Não mordas a Joaninha. De pequenos selvagens indecorosos e livres, transforma-mo-los em pequenos seres arrumadinhos, nos gestos, nas ideias, nos pensamentos.
fçljkdçklj
Um dos métodos de tortura mais eficazes é despir um prisioneiro diante dos seus algozes e dos seus companheiros de cativeiro.
Uma das formas mais altruistas de demonstrar amor é despirmo-nos diante do ser amado, ou deixá-lo despir-nos como bem entender, entregando-nos nas suas mãos.
Uma das formas mais odiosas de ofender alguém é usarmos palavras indecorosas. Mas uma das formas mais perfeitas de provarmos amizade é quando podemos usar palavras ofensivas à vontade, sem temer que o outro se ofenda, e até como forma de carinho ou excitação, por vezes.
kldfçl
O Decoro é, no mínimo, ambíguo, não concordam?

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

MURMÚRIOS DE LISBOA LIV

As Palavras de Lisboa
LFºÇDLF

Grafitti no interior de um autocarro
ÇLFǺDL
Palavrões
Palavrinhas
Paleio
Panfletos
Programas
Pedinchos
Perdidos
Pus
Posters
Passos
Pregões
Pancadas
Promessas
Partidas
Palestras
Pinturas
Pevides
Pratos
Pataniscas
Pilares
Pontes
Passageiros
Podridão
Pestilência
Prisão
Portas
Portões
Pessoas
Pessoa
Poetas
Papéis
Primaveras
Prostitutas
Pilhões
Polícias
Piratas
Políticos
Pechinchas
Pastilhas
Paisagens
Pedras
Peixeiras
Pecados
Prognósticos
Portáteis
Penas
Prantos
Postas
Pingados
Problemas
Paraísos
P…

domingo, 27 de janeiro de 2008

EM BUSCA DE PALAVRAS 8

AVISO: Este post é de leitura interdita a menores de 18 anos ou a pessoas sem o mínimo de bom senso ou senso de humor dentro da tola
fkjgfçklg
A Melhor Amiga de Um Sniper - Parte VII
dklçld

fdlkçlfk
Continuamos com as pérolas zen do filme Ghost Dog:
dlkçldk
“Se a cabeça do samurai for subitamente cortada, ele deverá ainda ser capaz de praticar uma última acção com segurança. Se nos transformarmos num fantasma vingativo e revelarmos grande determinação, ainda que a nossa cabeça tenha sido cortada, não morreremos.”
(isto é ... no mínimo, altamente nojento ... yaaaarchhh)
fçlçfº
“Quando decidimos matar alguém, ainda que seja manifestamente difícil avançar simplesmente, não devemos tentar alcançar o objectivo mediante rodeios. O Método do Samurai é o de seguir uma política de imediatismo e é melhor atirar-se de cabeça.”
(iiiiiháááá!!!! tipo Rambo ... tou a ver ... tou a ver a luz ...)
fçlºçf
“Os nossos corpos ganham vida a partir da inexistência. A existência a partir do nada é o significado da frase ‘A forma é o vazio’. Dizer que tudo vem do nada, é o significado da frase ‘O vazio é a forma’. Não devemos separar estas duas coisas.”
(não se preocupem ... também tive que ler esta p’rái umas 20 vezes até atingir ...)
fçlºçfl
“Não existe certamente nada para além do objectivo do momento presente. Toda a vida de um homem é uma sucessão de momentos. Se entendermos plenamente o momento presente, não haverá nada mais a fazer, nem nada mais a almejar.”
(devo dizer que esta foi a melhor definição de zen que já vi e finalmente eu vi a luz, mestre Ghost Dog!)
fºçfº~ç
“Podemos aprender muito com uma enchurrada. Perante um aguaceiro repentino, evitamos molhar-nos avançando rapidamente. E mesmo abrigando-nos sob os beirais dos telhados, acabamos por nos molhar. Se estivermos preparados, não ficamos surpreendidos, embora fiquemos igualmente encharcados. Este entendimento aplica-se a todas as coisas.”
(Sim, mestre Ghost Dog – pratico esta máxima há anos – eu sabia que havia alguma sabedoria nela, mestre! obrigada, mestre!)
fº~çº~fç

“Diz-se que o chamado ‘espírito de uma era’ não pode ser retomado. A dissipação gradual desse espírito deve-se à proximidade do fim do mundo. Assim, embora haja quem queira retomar o espírito de há um século ou mais, isso não pode ser feito. Por conseguinte, é importante tirar o maior proveito de todas as gerações.”
(ouviram????!!!! toca já a aprender hip hop, vá!)
ºfç~ºf
“Na zona de Kamigate, existem umas lancheiras que são tabuleiros sobrepostos, que utilizam para um único dia, quando fazem observação de flores. No regresso, deitam-nas fora e pisam-nas. O fim é importante para todas as coisas.”
(epá, com esta é que me lixaste o sistema de vez! la palisse não teria sido mais la palissiano que tu, Ghost!)
ºfç~fºç
Aprendi também, ó mestre Ghost Dog, uma pérola de sabedoria muito prática: se pusermos fita-cola num vidro duma janela e dispararmos muito próximo do vidro, este não se estilhaçará – este entendimento aplica-se a todos os vidros de todas as janelas ... presumo ... (salvo os à prova de bala, está visto, pois que neste caso o vidro não se estilhaçará porque nós é que nos estilhaçaremos ... graças ao método praticado desde sempre pelos vidros à prova de bala e que consiste no chamado ricochete ...)
fºf~çf
Quereis continuar a aprender sobre os métodos dos assassinos e dos snipers? Pois não devereis perder um único episódio de “A Melhor Amiga de Um Sniper”, oh pupilos
(Devereis nesta altura da leitura juntar ambas as mãos e inclinar a cabeça em sinal de respeito pela sabedoria despejada em vossas mentes)
çldkfçdl
Hasta la vista, baby

sábado, 26 de janeiro de 2008

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 23 (cont.)

Capítulo 7. MY SIN, MY SOUL
çlfºçdf
“Finnegans Wake, hmm?”
Ela encarou de novo o écran, sentindo-se apanhada em falta e ao mesmo tempo com uma secreta satisfação, enquanto ajeitava melhor no nariz os óculos da falsa miopia.
“Muito bem”, continuou ele, tossicalhando um pouco, “Vejo que o seu milionário gosta de rebeldes. Interessante ... Espero que consiga desenvencilhar-se, menina ...”
Emily endireitou-se e virou-se ligeiramente de lado, de forma a encará-lo de frente, sem ter que se levantar da cadeira:
“Russell. Emily.”
“Nome de escritora. Emily Brontë. Uma família prodigiosa, as irmãs Brontë. É quase pecado haver tanto talento numa só família.”
“Eu prefiro a Charlotte.”, apressou-se a dizer, tentando mudar o assunto do Joyce para um tema mais confortável.
“Claro ... suponho que leu a Jane Eyre ainda na puberdade ...”, e o anafado professor desviou os seus ridículos olhinhos azuis ampliados por lentes de fundo de garrafa para o seu decote, mas Emily não podia certificá-lo porque as lentes eram grossíssimas e as órbitas mais pareciam enormes moscas varejeiras azuis a esvoaçarem no vazio, dentro dum imaginário frasco de compota.
fgkmçlfkmg
“Lolita, luz da minha vida, fogo dos meus quadris. Meu pecado, minha alma. Lo-lee-ta: a ponta da minha língua realizando uma viagem de três passos através do palato para tocar, ao terceiro, nos dentes. Lo. Lee. Ta.
Ela era Lo, simples Lo, de manhã, com uma altura de 1 metro e meio, uma meia enfiada num pé. Ela era Lola de calças largas. Ela era Dolly na escola. Ela era Dolores nos seus cadernos pautados. Mas nos meus braços, ela era sempre Lolita." (35)
lfkgçlfkg
“Já a li tantas vezes, professor Hesse, que quase a sei de cor.”, e, para sua própria surpresa, recitou o início do romance, que permanecera intacto na sua memória desde a última vez que o lera a John, há alguns meses atrás:
lfkgçlfkg
“Não havia possibilidade alguma de dar um passeio naquele dia. Tinhamos vagueado, de facto, no pomar despido durante uma hora nessa manhã; mas desde o jantar (Mrs. Reed, quando não havia convidados, jantava cedo) que o frio inverno trouxera consigo nuvens tão sombrias e uma chuva tão penetrante, que qualquer actividade física no exterior estava agora fora de questão. (36)
gfklçlfkg
Mas a sua momentânea loucura literária pareceu não exercer qualquer efeito notório no semblante do professor, que se limitou a murmurar:
“Hmm ... agora Joyce, isso sim, Joyce é outra história completamente diferente. Não retirando, obviamente, todo o valor que um romance como Jane Eyre possui, digo-lhe que Joyce era e continua a ser um verdadeiro génio da literatura. Muito poucos se lhe aproximarão, com toda a certeza. Um verdadeiro génio, menina Sutherland. Presumo que o Wake não seja sua sugestão ... ainda é demasiado nova para poder compreender a sua importância.”
“Não ...”, Emily corou e baixou os olhos, procurando instintivamente com a mão o rato do computador e fazendo-o deslizar distraidamente sobre o tapete pousado em cima da mesa.
“Claro ... Já lhe deu uma vista de olhos? Vejo que está a pesquisar. Complicado ... um golpe de génio absolutamente sem precedentes e que continua a intrigar os círculos literários. Qual Tolkien, qual carapuça, mais as suas linguagens élficas.”, o professor sorriu e abanou a cabeça num gesto que tinha tanto de cómico como de absurdo, “Tolkien ao pé de Joyce é um aluno suficiente ... Mas enfim, é apenas uma opinião. Se quiser posso ajudá-la com o Joyce. Amanhã estou livre à hora do almoço para um café.”, levantou a sobrancelha esquerda e puxou mais uma fumaça intensa do seu cachimbo, enquanto as varejeiras azuis esvoaçaram enigmaticamente um pouco mais.
Emily não soube o que responder. Cruzou a perna para o outro lado e sorriu, sem saber que atitude tomar.
Ele continuou a sorrir, aguardando provavelmente uma resposta e depois rodopiou sobre si próprio e exclamou:
“Bom ... et voilá ... ali está a minha estagiária das 3. Foi um prazer, menina Sutherland. Até breve, espero.”
E bamboleou a sua gordura na diagonal, em direcção às mesas de estudo do lado direito da sala ampla, num passinho demasiado miúdo para tanto peso.
Emily suspirou, saiu do motor de busca e voltou às suas fichas.
kjfglkfjg
Naquela noite demorou a adormecer. Receava ser surpreendido de novo pelo sonho, algo que começava a tornar-se assustadoramente recorrente. As dores também o impediam de fechar os olhos com tranquilidade. E a rapariga martelava-lhe os pensamentos com insistência, como uma sinfonia persistente mas que se ia familiarizando a cada dia que passava.

kdfçldfk
(35) Lolita - Vladimir Nabokov; (36) Jane Eyre – Charlotte Brontë

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

OS ANIMAIS DE ANDRÓMEDA

ORCA
ÇFKºÇLFD


FÇLºDFL
As orcas, ou baleias assassinas, são um dos mais poderosos predadores do mundo. Alimentam-se de outros mamíferos marinhos, como focas, leões marinhos e até baleias, utilizando dentes que podem atingir os 10 centímetros de comprimento. Já foram avistadas a atacar focas que se encontram em cima de placas de gelo, agarrando-as sem piedade. Também se alimentam de peixe, lulas e pássaros marinhos.
GKÇLFKG
Apesar de frequentarem com maior regularidade águas costeiras frias, podem ser encontradas desde as regiões polares até à zona do Equador.
GOLºFÇLG
As orcas caçam em grupos familiares até 40 indivíduos. Parecem existir populações de orcas tanto residentes como nómadas. Estes diferentes grupos podem perseguir diferentes animais e utilizar diferentes técnicas para os caçar. Os grupos residentes tendem a preferir peixe, enquanto os grupos nómadas preferem mamíferos marinhos. Ambos os tipos de grupos utilizam técnicas de caça cooperativas e eficazes, que alguns cientistas comparam ao comportamento das alcateias de lobos. As orcas são também conhecidas por "brincarem" com as suas presas, utilizando-as como se se tratassem de bolas que arremessam entre si.
ÇGº~FÇG
As baleias produzem uma ampla variedade de sons para comunicarem entre si e cada grupo possui sons distintos que são reconhecidos pelos seus membros, até a uma grande distância. Utilizam a ecolocalização para comunicar e caçar, produzindo sons que viajam através da água até embaterem em objectos e ricochetearem até à sua autora, revelando a respectiva localização, tamanho e forma.
FGºÇF
As baleias assassinas são extremamente protectoras relativamente às suas crias e é frequente outras fêmeas adolescentes ajudarem uma progenitora nos cuidados da respectiva cria. As mães dão à luz
num período que varia entre os 3 e os 10 anos, após uma gravidez de 17 meses. A sua vida pode prolongar-se até aos 50 ou mesmo 80 anos, em liberdade. Uma orca adulta mede entre 7 e 10 metros e pesa cerca de 6 toneladas.
ÇGºLFºÇLG
As orcas são imediatamente reconhecíveis pela sua cor branca e preta e possuem enorme inteligência, pelo que podem ser domadas para participarem em espectáculos aquáticos. Talvez por serem muito perigosas e extremamente inteligentes, as orcas nunca foram muito caçadas pelos seres humanos.

LDFºÇLF
ÇLGºF
Bolas, que és mesmo doida pá!
Completamente avariada do sistema
Vejam bem os saltos que esta gaja dá
Sem nenhum tipo de problema
LFºDÇL
Não admira que ande meio mundo
A fugir de ti como o diabo da cruz
Lá no teu mundo profundo
Só se safa quem for tão avariado como tu!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

PALAVRAS CONTESTATÁRIAS 4


kgfçlkg
gkçflg

"A vida começa aos quarenta"
kffdklg
"Mas então porque raios nos fazem vir com tanta antecipação?!"

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

PLIM! XIII (Palavras Loucamente IluMinadas)

"E na mesa do meu quarto absurdo, reles, empregado e
jglfkdjg
anónimo, escrevo palavras como a salvação da alma e
gfklg
douro-me do poente impossível de montes altos vastos e
çgkçfkg
longínquos, da minha estátua recebida por prazeres, e
çlkgçflg
do anel de renúncia em meu dedo evangélico, jóia
çfklgçf
parada do meu desdém extático."
lkfgçlf
Livro do Desassossego - Fernando Pessoa

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 22 (cont.)

Capítulo 7. MY SIN, MY SOUL
lkgfçlg
"Nalguma estante de algum hexágono (pensaram os homens) deve existir um livro que seja a chave e o resumo perfeito de todos os outros: deve haver algum bibliotecário que o tenha estudado e seja análogo a um deus. Na linguagem desta zona hão-de persistir ainda vestígios do culto desse funcionário remoto. Fizeram-se muitas peregrinações à procura d'Ele. Durante um século percorreram em vão os mais diversos rumos. Como localizar o venerado hexágono secreto que o alojava? Alguém propôs um método regressivo: Para localizar o livro A, consultar previamente um livro B que indique o sítio de A; para localizar o livro B, consultar previamente um livro C, e assim por diante até ao infinito …" (34)
gklçflkg
Finnegans Wake, publicado em 1939, fora a última obra do irlandês James Joyce. O valor do romance como obra literária permanecia matéria controversa ainda agora, do mesmo modo que o fora na época da sua publicação. O próprio Joyce referiu-se-lhe como uma “história do mundo”. Anthony Burgess, autor de “A Laranja Mecânica” descreveu-o como “um dos livros mais interessantes jamais escritos.” Alguns defendiam, porém, a opinião de que o livro não passava de uma partida que Joyce resolvera pregar à comunidade literária. Stanislaus, irmão de Joyce, afirmou que era “ou o resultado do trabalho de um psicopata ou uma grandiosa fraude literária.” O crítico literário e amigo Oliver Gogarty chamou-lhe “a mais colossal partida literária de sempre”. Apesar de tudo, o livro fora recentemente seleccionado pela Biblioteca Moderna para fazer parte da lista dos 100 maiores romances de língua inglesa do século XX.
Emily ficara na biblioteca durante a hora do almoço, para conseguir realizar a sua pesquisa. Comeu uma sanduíche de frango mas esqueceu-se completamente da sobremesa, de tão embrenhada que ficou no sacana do Joyce.
Tornava-se complicado elaborar uma sinopse simples do romance, mas básica e muito resumidamente, e nisso a maioria das análises estava de acordo, Finnegans Wake constituía o relato dos sonhos de um homem.
“Em primeiro lugar, é-nos relatada a queda de um personagem principal, chamado Finnegan e identificado como um obreiro de Dublin (ou, mais concretamente, representando todos os obreiros de todos os géneros ao longo da história mundial), caindo para a sua morte desde uma torre ou muro. Após a queda, dá-se uma luta entre outros trabalhadores, é derramado whiskey sobre o seu cadáver e Finnegan acorda novamente (Finnegan awakes).
Este novo Finnegan representa todos os homens e a sua queda a queda de toda a humanidade. Subsequentes vinhetas no primeiro capítulo apresentam-no como um guerreiro, um explorador invadindo um território ocupado pelos seus antepassados aborígenes e como a vítima de uma vingativa rainha pirata. No final do primeiro capítulo, Finnegan surge de novo caído no chão e uma nova versão do personagem encontra-se agora a chegar à Baía de Dublin para tomar o lugar do outro: Humphrey Chimpden Earwicker, cujas iniciais HCE ("Here Comes Everybody") se vão repetindo ao longo de todo o livro.
O progresso do romance está longe de ser simples, uma vez que se inspira em mitologias, teologias, mistérios, filosofias, histórias, sociologias, astrologias, outras ficções, alquimia, cor, natureza, sexualidade, desenvolvimento humano e dúzias de línguas diferentes.
O livro termina com a última frase incompleta, deixando ao mesmo tempo a possibilidade de o leitor a completar com a sua própria vida, ou de regressar ao início do livro e completá-la com a frase de abertura, num eterno ciclo.”
Emily descobriu que Joyce passara os últimos dezassete anos da sua vida a fazer experiências com a linguagem e a escrita. Dedicara-se a fazer e refazer Finnegans Wake utilizando elementos léxicos, sintácticos e gráficos de diversas línguas. O resultado fora uma linguagem similar a uma possível linguagem que poderíamos ter enquanto sonhamos, não inteiramente consciente ou formada, impregnada de infinitas camadas de significados.
Nesse sentido, o livro poderia ser visto como um abandono das convenções da mente acordada, para incorporar o trabalho realizado pela mente adormecida. Ao sonharmos, as imagens e as tramas não são distintas – elas mudam e aglomeram-se e reformam-se constantemente. Joyce captou esta qualidade proteinária dos sonhos, através de complexos jogos de palavras e significados contraditórios. E, embora tenha escrito basicamente em inglês, universalizou o “sonho” incorporando-lhe dúzias de outras línguas e dialectos.
Esta utilização das línguas do mundo fazia parte do objectivo de abarcar o conhecimento total da humanidade no livro. O romance estava cheio de alusões a mitos, história e arte mundiais, sem esquecer outros géneros de cultura mais popular como canções, rimas infantis e outros recursos.
ldfºçdl
Quando acabou, foi surpreendida pela respiração pesada e quente do vetusto professor de Literatura, inclinado por trás de si, sobre o seu ombro, aparentemente nessa posição já há algum tempo, porque franzia o sobrolho e segurava o seu cachimbo com o polegar e o indicador, numa atitude de concentração perante a página que ela tinha aberto no programa de busca da internet, e que enchia o écran do velho computador utilizado pelos funcionários da biblioteca.

ldfºçdl

(34) Ficções - A Biblioteca de Babel - Jorge Luís Borges

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

PALAVRAS EMPRESTADAS 34

fdkçdlfk
"O que é que as tuas disciplinas (psicologia e criminologia) te dizem sobre Buffalo Bill (serial-killer)?"
djfkdklfj
"Pelos livros, ele é um sádico."
djfkdklf
"A vida é demasiado escorregadia para livros, Clarice; a raiva manifesta-se como lascívia, o lupus apresenta-se como urticária."
djfkdklfj
Hannibal Lecter em "O Silêncio dos Inocentes" - Thomas Harris

domingo, 20 de janeiro de 2008

EM BUSCA DE PALAVRAS 7

AVISO: Este post é de leitura interdita a menores de 18 anos ou a pessoas sem o mínimo de bom senso ou senso de humor dentro da tola
çlfºçdl
A Melhor Amiga de Um Sniper - Parte VI
çlfºdçlf

çfdlºdçlf
A minha pesquisa continuou com Ghost Dog – O Método do Samurai, um filme simples e brilhante com o maravilhoso Forest Whitaker.
Ghost Dog é um assassino profissional que segue o Método do Samurai, mantendo-se fiel ao seu protector e salvador, apesar deste seu protector e “amo” ser um reles mafioso de segunda categoria, velho e cansado, estúpido que nem uma porta e com algum coração mas pouca honra.
Ghost Dog é um filme tocante e poético sobre um pobre miúdo de rua que se transforma num terrível e exímio assassino profissional e cuja honra de samurai o leva a manter-se fiel a alguém que não merece de todo essa fidelidade.
dkfdk
O que aprendi com Ghost Dog? Bebam estas pérolas de sabedoria zen:
lkgçlfkg
“O Método do Samurai é encontrado através da morte. A meditação sobre a inevitável morte deve ser diária. Todos os dias, quando o corpo e a alma repousam, devemos meditar e imaginar-nos trespassados por setas, espingardas, lanças e espadas, arrastados por ondas, lançados numa grande fogueira, atingidos por relâmpagos, soterrados por um grande terramoto, caindo de penhascos de 3 mil metros, morrendo de doenças ou cometendo sepukko pela morte do nosso mestre. E todos os dias, sem excepção, devemos considerar-nos mortos. É esta a essência do Método do Samurai.”
(xiiiiça!!!! que isto começa bem ... estarei viva ou morta, enquanto escrevo isto?)
kfçldk
“É mau quando uma coisa dá origem a duas. Não devemos procurar mais nada no Método do Samurai. Isto aplica-se a tudo aquilo a que pode chamar-se “método”. Se compreendermos isto, estaremos aptos a reconhecer outros métodos e a sermos mais coerentes com o nosso próprio método.”
(tradução: se os queres vencer, não te juntes a eles, observa e mantém-te na tua)
dljkfd
“Se quisermos descrever resumidamente a condição do Samurai, podemos apontar como característica primordial a fidelidade absoluta ao amo. Não esquecer que o amo é o aspecto mais fundamental de um ‘servidor’ ”.
(alguém devia era ter dito ao Ghost que aquele amo era coisa pó fraquito)
kfklçdkçf
“Ver o mundo como um sonho é uma boa perspectiva. Quando temos um pesadelo, acordamos e convencemo-nos que foi apenas um sonho. Diz-se que o mundo em que vivemos não difere muito disso.”
(epá! eu sabia pá! eu sabia que estava a ter um pesadelo! ufa!)
.jlkfdj
“As questões importantes devem enfrentar-se de forma ligeira. As questões insignificantes devem tratar-se com a maior seriedade.”
(oh Mestre Ghost Dog, esta não atingi ... a sério ... explica lá outra vez ... então, quer dizer, se me falta a pasta de dentes devo ter um ataque de histeria e ir a correr ao supermercado mesmo que sejam 4 da matina, mas já se me despedirem, devo sorrir e dizer obrigada? continuo sem perceber ... mas eu sei que é porque ainda não me permitistes atingir a luz ...)
jglkfdjg
“Segundo um dos anciãos, eliminar o inimigo no campo de batalha é como um falcão a caçar um pássaro. Ainda que esteja rodeado por 1000 outros pássaros, o falcão só presta atenção àquele que já seleccionou.”
(o pior é quando os outros 999 “pássaros” já nos seleccionaram a nós ...)
çjgçlfkdg
“Nas palavras dos antigos, devemos tomar as nossas decisões no tempo que demora respirarmos 7 vezes. É uma questão de estarmos determinados e termos o espírito para levar a coisa por diante e atravessarmos para o outro lado.”
(pois, até porque há decisões que se tomarmos no tempo que demora 7 vezes a respirar, atravessamos mas é mesmo lá para o outro laaaaaado)
kfçdlk
Quer saber mais pérolas zen de Ghost Dog? Então não perca o próximo episódio de “A Melhor Amiga de um Sniper”

çlºçdl
E aqui fica um cheirinho do filme:
dºçdl


kçlfk
Hasta la vista, baby

sábado, 19 de janeiro de 2008

OS ANIMAIS DE ANDRÓMEDA

NARVAL
JFKLDJF

FKLDJFL
O Narval é o unicórnio dos mares, um cetáceo de cor pálida que habita as águas costeiras e os rios do Ártico. Estes lendários mamíferos marinhos têm apenas 2 dentes. Nos machos, o dente mais proeminente cresce até formar um corno espiralado, semelhante a uma espada que pode atingir o 2,7 metros de comprimento. O dente de marfim cresce atravessando literalmente o lábio superior do narval. Os cientistas não estão ainda certos sobre a função deste corno, mas acredita-se que possa servir para rituais de cópula, talvez utilizado para impressionar as fêmeas ou para combater rivais. As fêmeas por vezes também possuem um pequeno corno, mas nunca atinge a proeminência do dos machos. Outra das hipóteses é de que possa servir para perfurar os blocos de gelo compactos abundantes no seu habitat, mas estudos recentes sugerem que este corno possui um censor capaz de detectar a temperatura, a pressão e a salinidade da águas. Mas a sua verdadeira função permanece um mistério.
O seu corno foi durante séculos inspirador do mito do unicórnio, acreditando-se que deteriam poderes medicinais e mágicos. Por este motivo, a caça do narval foi até há pouco tempo muitíssimo abundante.
Os Narvais pertencem à mesma família dos golfinhos roazes, belugas e orcas. Como outros cetáceos, viajam em grupos e alimentam-se de peixe, crustáceos, lulas e outras presas aquáticas. São habitualmente avistados a nadar em grupos de 15 ou 20, mas já foram avistados conjuntos de centenas ou alguns milhares de narvais. Por vezes estes grupos vêem-se encurralados por placas móveis de gelo sólido e são também vítimas dos caçadores inuit (esquimós), ursos polares ou morsas.
Os inuit, os únicos que têm autorização para caçar narvais actualmente, procuram-nos para obterem os seus cornos e a sua pele, uma importante fonte de vitamina C na dieta tradicional do Ártico. As orcas também são predadoras dos narvais, em mar aberto.
GLFJLG
Quando pela primeira vez te vi
Pensei que não estavas aí
Pensei que nadasses já apenas nos livros
De um capítulo enciclopédico sobre tempos idos
fdjfklj
Foi com surpresa que percebi
Que ainda vagueias nos mares do meu tempo
Que o teu corno encerra em si
Histórias e lendas segredadas pelo vento
KDLFÇLDK

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 21 (cont.)

Capítulo 6. AND ON MY LEANING SHOULDER SHE LAID HER SNOW-WHITE HAND
glºçflg
Baixou os olhos, mesmo sabendo que ele estava impedido de lhe ver o rubor nas faces.
“Eu …”
“Emily … você nunca poderá ser uma boa leitora ou o que quer que seja, se se limitar a cumprir aquilo que lhe é pedido. Tem que ir mais além disso. Treina em casa? Leva os livros e treina?”
“Não … não sabia que os podia levar …”
“A partir de hoje considere-se livre de poder levar os livros que lhe apetecer daqui, desde que os traga de volta, evidentemente. Não preciso de a avisar que se tentar ficar com algum deles, eu saberei e tomarei as devidas providências.”
Sentiu-se escandalizada com aquela atitude de desconfiança e estava prestes a responder-lhe, quando ele acrescentou:
“Você faria o mesmo, se não me conhecesse de lado nenhum. Não faça essa cara de escandalizada.”
E depois um sorriso abriu-se no seu rosto.
“Mas como é que faz isso? …”
“Tenho um terceiro olho e não é o que está atrás das costas.”
Emily soltou uma gargalhada.
“Não tente fugir ao assunto.”
Continuou a rir, enquanto respondia:
“Não estou a fugir a nada, senhor professor …”
Ele sorriu imperceptivelmente e continuou:
“A partir de hoje vai ter duas tarefas por dia para fazer. Trabalhos de casa. Suponho que tem acesso à Internet ou, pelo menos, a uma biblioteca …”
“Trabalho numa biblioteca.”, interrogou-se se ele não teria lido o curriculum que entregara a Clara.
“Ah sim, claro. A Clara leu-me o seu CV, mas não fixei esses pormenores. Bom, então óptimo. A primeira tarefa é simples – vai treinar em casa, aliás como suponho que já fazia antes de ler para mim. Leva o livro que estiver a ler e lê as passagens que me irá ler no dia seguinte, para se familiarizar com o texto. Essa é a primeira regra de qualquer leitor. Familiaridade com o texto e repetição exaustiva. Não faz sentido nenhum estar a ler-me coisas à minha frente pela primeira vez.”
Ele tinha razão, claro. E a sua falta de argúcia para tê-lo percebido sem precisar de qualquer admoestação, fora imperdoável e um sinal francamente embaraçoso de amadorismo e preguiça.
Mas Emily era apenas uma provinciana acabada de chegar à cidade e os seus estudos limitavam-se ao liceu, apesar de a sua inteligência e aspirações serem superiores às da típica campónia que apenas pretende um bom ordenado e uma boa colocação, num qualquer trabalho de escritório onde não tenha que pensar muito.
“De nada lhe serve ter o dom que tem, se os seus neurónios não o acompanharem, percebe? É como um músico virtuoso aprender a tocar uma determinada peça de piano e não querer saber sequer o que o compositor queria transmitir com ela. Para além de demonstrar ignorância e mesquinhez, é uma profunda falta de respeito para com o autor que a criou e que enriqueceu a sua vida com essa obra de arte.”
Continuou calada e começou a sentir-se cada vez mais pequena na sua cadeira. Wolf mirava-a do seu posto aos seus pés e começou a ganir.
kgçfl
“Olha que sensação tão estranha! – admirou-se Alice – Devo estar a encolher como um telescópio!” (33)
gkflçkg
“A segunda tarefa é um pouco mais complicada, mas uma rapariga inteligente como você deverá encará-la como um desafio interessante. Vai realizar uma pesquisa sobre as obras que temos lido, os seus autores e a sua restante obra e vai-me trazer as dúvidas que tem. Conversaremos sobre essa pesquisa um pouco todos os dias. O que acha?”
Surpreendeu-se por ele lhe pedir opinião sobre uma ordem.
“Emily, isto não faz parte das suas funções como leitora. É livre de recusar, se assim o desejar. Apenas penso que é importantíssimo para a sua progressão, para além de que também irá contribuir para alargar os seus horizontes intelectuais. Você precisa de sair dessa concha onde vive.”
Corou de novo. Mas que raio … mas como é que ele conseguia …
John não lhe deu tempo para formular qualquer pergunta em voz alta:
“A entoação da sua voz … a sua respiração … as palavras que usa no seu discurso … a forma como constrói as suas ideias … tudo isso são indícios para mim. Não sou nenhum mágico, Emily. Sou uma pessoa vivida, apenas isso.”, claro que nunca lhe diria, mas pensou que o comportamento de Wolf por vezes também o ajudava bastante a perceber as reacções que ela ia tendo às suas palavras.
“Portanto, a primeira tarefa será descobrir o que é que o sacana do Joyce quis fazer quando escreveu o Finnegans Wake. Combinado?”
“Sim.”, pensou que o tom da resposta provavelmente não fora muito entusiástico, apesar de ter sentido um formigueiro agradável quando ele mencionara a palavra “tarefa”.
“Muito bem. Acabamos por hoje. E não se esqueça de levar o Kafka e lê-lo em casa.”
kdflçfdk
(33) As Aventuras de Alice no País das Maravilhas - Lewis Carroll

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

PALAVRAS CONTESTATÁRIAS 3

fkçldkf

lfdºdçlf
"Democracia (do grego, demos, povo e kratos, autoridade).
Governo em que o povo exerce a soberania."



quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

MAGIC MOMENTS 23

Ouvi Dizer

lfkçdkf


lfkçdkf lfkçdkf
jgfjçklg
gdhkljfhg

ORNATOS VIOLETA lyrics

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

EM BUSCA DE PALAVRAS 6

A Melhor Amiga de Um Sniper – Parte V
ºçfdlg



ºç~flº~dçf

A lista era a seguinte:
Inimigo às Portas
O Resgate do Soldado Ryan
Falsas Aparências
Assassino Contratado
Ghost Dog – O Método do Samurai
O Matador
O Assassino
28 Minutos Para Matar
Alvo Errado
Léon, O Profissional
Shadowboxer
O Atirador
kfçldksf
E o tipinho da FNAC teclava rapidamente e só me dizia que estava tudo esgotado. Mas eu acho que ele estava era com medo que eu sacasse de uma Colt qualquer e desatasse a disparar para as estantes da loja, a ver se os filmes saltavam por milagre. Fiquei a imaginá-lo a pensar “Mas que raio anda esta gaja a fazer?”
Ando a fazer pesquisa sobre assassinos profissionais e snipers ...
Até agora, e vistos 2 dos filmes da lista (aliás, revisto um e visto pela primeira vez outro) descobri várias coisas fundamentais:
klfçdlsf
- Shadowboxer é uma bodega de filme (apesar de ter dois dos maiores actores da geração actual do cinema – Hellen Mirren e Cuba Gooding, Jr)
- Mas o que é que passou pela cabeça de Hellen Mirren e Cuba Gooding Jr. para entrarem nesta m......?!!!!! (talvez notas muito verdinhas ...)
- É que o filme é mesmo uma porcaria do outro mundo ...
- Léon ensinou-me que:
-- um sniper deve vestir roupa da mesma cor do chão onde está deitado, para passar despercebido
-- a espingarda é a primeira arma que um assassino aprende a utilizar, porque nos permite manter a distância do alvo (Léon chama-lhe cliente, mas eu acho que é do inglês dele não ser lá muito bom, porque afinal de contas quem manda matar é que é o cliente, certo? ... ou se calhar não ... vá-se lá entender a cabeça dum "cleaner" françiú ...); quanto mais profissionais nos tornarmos, mais próximo nos podemos aproximar do alvo (cliente), por exemplo, a faca é a última coisa a aprender
-- a protecção da mira só se tira no último instante, porque reflecte a luz e revela a nossa posição
-- se deve manter a calma, respirar lentamente, observar os movimentos do alv... cliente como se estivéssemos ao seu lado, respirar fundo e só então disparar
-- Epá, pese embora a comicidade e pura fantasia, Léon continua a ser um filme sensacional e delicioso, com o humor negro muito especial de Luc Besson - Gary Oldman faz um personagem histriónico a não perder e a pequena Natalie Portman (que na altura tinha apenas 12 anos) já prometia ser a grande actriz que é hoje em dia.
,f-d,g-
A história, para quem não sabe, é simples: uma miúda escapa à limpeza total da sua família por um polícia da DEA corrupto e esconde-se no apartamento do seu vizinho que, por acaso, é um assassino profissional, vive apenas com a sua planta que trata como se fosse uma irmã e não quer chatices. Ela lá o convence a ensinar-lhe os básicos da vida de “limpador” e ele torna-se uma espécie de pai-namorado platónico desta criança prodígio determinada a vingar a morte do seu pequeno irmão de 4 anos.
Há cenas deliciosas, como quando ela lhe pergunta o nome, ele responde Léon, ela diz “que nome giro” e ele se engasga todo com o pacote de leite que estava a emborcar (sim, ele só bebe leitinho) porque a miúda é saída da casca e já sabe seduzir com aquela idade tenra.
lçfkgçlfg
Léon, o Profissional foi apenas o primeiro de muitos filmes nesta pesquisa, que já deu o pontapé de saída há muito tempo. O que aprendi com Léon parece-me agora pouca coisa, para as fascinantes descobertas que já fiz entretanto. Por isso, se quer saber mais, não perca os próximos episódios de "A Melhor Amiga de Um Sniper" :)
No próximo episódio, as lições de Ghost Dog, um assassino muito especial ...
Hasta la vista, baby
mfmf,.

ldkkld
E um cheirinho do filme ;)
fjdlsk

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 20 (cont.)

Capítulo 6. AND ON MY LEANING SHOULDER SHE LAID HER SNOW-WHITE HAND
çglºçflg
A sua singeleza continuava a provocar-lhe um sentimento de desprezo. Emily fazia parte do lado fraco da vida, dos noventa e oito por cento da humanidade que se limitavam a arrastar-se todos os dias, tentando sobreviver com um sorriso nos lábios ao entediante e patético desenrolar das suas vidinhas desprovidas de significado.
Apesar disso, conseguia achar-lhe graça. Por baixo de uma aparente apatia, a voz dela fora-lhe revelando a sua alma como uma cebola cheia de camadas cada vez mais surpreendentes. Ela nem se apercebia disto, claro. Estava demasiado embrenhada nos seus medos mesquinhos para notar que, à medida que a sua voz se desenvolvia, também toda a sua força interior vinha lentamente ao de cima.
çlgºçf
Uma noite sonhou de novo com a voz que o perseguia. Acordou mais uma vez alagado em suor e com o tronco já fora do colchão, na iminência de arrastar o resto do corpo numa queda vertiginosa para o chão. Os braços voaram pelo ar, tentando agarrar o espaldar da cama. Só percebeu que gritara quando ouviu Clara abrir a porta. Mas antes que ela tivesse tido tempo de se aproximar, já ele conseguira erguer-se para cima do colchão.
Soltou uma gargalhada.
"Não te preocupes, querida Clara. Ainda não foi desta que consegui partir o pescoço. Mas amanhã é outra noite."
Como de costume, Clara saiu sem dizer palavra. E então lembrou-se. A voz do sonho era a de Clara, uma voz com rosto mas sem corpo, uma voz angustiante que o perseguia pelos corredores da casa soltando um grito revoltado que o fez, mesmo então e acordado, tapar os ouvidos. E no fim da casa estava Emily de braços abertos, sorrindo e murmurando uma ladainha suave, como se o quisesse chamar. E ele corria para os seus braços, mas não conseguia alcançá-la.
"Que patético …"
Teve vontade de chamar Clara de volta e perguntar-lhe porque era tão fria.
"Frígida. Deves ser frígida, querida Clara."
E chorou, baixinho. Chorou de raiva porque queria enfiar um balázio na cabeça. Mas também chorou de impotência porque a vontade de morrer, aquela certeza absoluta de que queria acabar com tudo, se fora desvanecendo aos poucos e ele já não sabia se teria coragem para o fazer.
çglfºçlg
"Mal isto conteceu, sentiu, pela primeira vez naquela manhã, um bem estar físico; as patinhas encontravam um apoio firme e, como constatou com alegria, obedeciam-lhe completamente; esforçavam-se mesmo por levá-lo aonde quisesse; e já acreditava que estava iminente a melhoria definitiva de todo o seu sofrimento. Mas, no preciso momento em que, balançando num movimento suspenso, não muito afastado da sua mãe, se viu frente a frente com ela, no chão, esta, que parecia ter ficado mergulhada em si mesma, pôs-se de pé num salto, os braços completamente esticados, os dedos abertos, e gritou:" (32)
gkçklfg
"Emily …"
"Quer parar por hoje?"
“Quero. Você percebe o que está a ler?”
“Como?...”, não estava certa de ter percebido a interrogação.
“Se percebe o que está a ler? Se está a tomar atenção ao que está a ler, ou se se limita a debitar texto?”
Ficou sem saber o que responder porque, mais uma vez, ele acertara em cheio.
“Eu …”
“Emily … Já fez enormes progressos desde que cá está, mas ainda lhe falta uma etapa muito importante.”
Manteve-se silenciosa. Não sabia o que havia de responder, porque ele a apanhara de surpresa.
“Lembra-se do primeiro livro que eu lhe pedi para ler?”
Como é que se podia esquecer? …
“Sim …”, será que ele iria pedir-lhe para ler aquela monstruosidade outra vez?
“Por acaso teve curiosidade em saber que raio de livro é aquele?”
Não … E subitamente percebeu onde ele queria chegar. Como um professor paternalista e atento, John estava a passar-lhe um atestado embaraçoso de preguiça mental.
“Não …”
“E não tem curiosidade em saber? Eu sei que foi uma tortura, mas os medos existem precisamente quando o seu objecto nos é desconhecido. Alguma vez reflectiu sobre este aspecto da vida?”
çlgºçflg
(32) A Metamorfose - Franz Kafka

domingo, 13 de janeiro de 2008

OS ANIMAIS DE ANDRÓMEDA

MARTA
FLÇLFK




LKÇLFK

A pele das Martas é muitíssimo apreciada, bem como o seu pelo, considerado o melhor material para fabricar pincéis de grande qualidade, o que fez com que de centenas de milhares na Europa, passassem a autênticas raridades. Acresce a isto o facto de ser relativamente fácil caçá-las, uma vez que são extremamente curiosas e atraídas por objectos brilhantes, por exemplo.
Para além do Norte da Europa, as Martas podem ser encontradas na América do Norte e na maioria do território russo. No entanto, a Marta Europeia é uma das espécies mais ameaçadas do mundo, encontrando-se totalmente extinta na Europa Central.
çlºçlg
As Martas são solitárias, vivem em lugares rochosos e arborizados e por este motivo, ainda não estão completamente extintas. Têm por hábito demarcar o território com rastos da secreção das glândulas anais, cujo odor é um pouco mais suportável do que o da doninha, uma parente próxima.
Têm normalmente 2 a 3 crias e, embora as abandonem para acasalarem de novo, regressam sempre ao ninho (normalmente um ninho roubado a um esquilo ou a bifurcação de uma árvore) para cuidarem dos filhotes durante 2 meses.
As Martas adaptam-se bem quer em terra, quer na água e são caçadoras eficazes, alimentando-se de esquilos, coelhos, rãs, crustáceos e aves pequenas.
fkjlkfj
Oh Marta, Martinha
Sabes bem que és "minha"
Contigo partilho o nome
E também toda essa fome
fkjflkj
Fome de guloseimas e teimas
Fome de conhecimento e alento
Como eu, és curiosa
E certamente muito teimosa
fkjklf
E lá caímos facilmente
Quando alguém quer enganar a gente
Não é?
Pois é ...
jfkfj
Mesmo assim
Ainda não nos conseguiram aniquilar
Frágil ..., dirá quem nos olhar
Mas enganem-se, somos osso de roer mesmo ruim

sábado, 12 de janeiro de 2008

MURMÚRIOS DE LISBOA LIII

Anjos Cool
lkfdçlskf

Grafitti no muro junto ao Centro Comercial Amoreiras
flºçdlf
Eram três anjos negros.
Caminhavam à minha frente e nunca lhes vi sequer os rostos.
Tudo durou uns 30 segundos, se tanto.
Foi numa estação inter-face, algures em Lisboa.
E não caminhavam, estes anjos, mas dançavam.
Ou andavam-dançavam.
Aquele andar gingado, ritmado, como se marcado ao compasso de uma batida qualquer, a batida dos seus corações.
Tac Taac Tac Taac
Aquele andar cool que só os anjos negros costumam ter.
E os meus olhos transformaram-se por instantes numa câmara de filmar.
E o tempo atrasou um pouco, e 1 segundo demorou 4 segundos.
Taac Taaaac Taac Taaaac
E continuei a vê-los, mas em câmara lenta.
Eram os três muito novos.
Vestiam os três de modo igual, muito azul, ganga e preto, nylon e bonés de pala.
E o líder era o do meio, só não via quem era cego.
Tinha o dançar de comando.
Os sons das outras pessoas, os sons do trânsito lá em cima, os sons das chávenas e dos pacotes de açúcar nos cafés, os sons das conversas entre vendedores e clientes, os sons da humanidade atarefada afunilaram-se como se fugindo num túnel de som.
E ficaram apenas os sons dos passos dos três anjos nos meus ouvidos.
Depois a música começou dentro da minha cabeça.
Era

lfºçlg



A câmara das minhas íris continuava a seguir as costas dos três anjos.
Taac Taaaac Taac Taaaac
Os nomes dos actores surgiram por cima da imagem.
Depois os nomes do responsável do casting, do autor da banda sonora, do director de fotografia, do argumentista, do produtor e do realizador.
Pode ser
Quentin Tarantino
ou
Martin Scorsese
ou
Spike Lee
é o que quiseres
O filme vai começar.
Não sei para onde se dirigem os três anjos negros.
Agora é contigo ...
Imagina o que quiseres ... ;)






sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

PALAVRAS CONTESTATÁRIAS 2

dçfdkld
- Acabou-se a fome e a pobreza no mundo?
Suprimiram-se as armas nucleares? Sim??
- ahhh bem, creio que não, filhinha.
- E ENTÃO PORQUE C...... MUDAMOS DE ANO?!
fkçlfklf
"E agora as notícias internacionais.
Bombas de enorme poder arrasaram hoje com a aviação de ..."
Tic!
- Não se lhes pode dar um ano novo,
que começam logo a estragá-lo!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 19 (cont.)

Capítulo 6. AND ON MY LEANING SHOULDER SHE LAID HER SNOW-WHITE HAND
lfçldkjfl
"O Dr. Hoffman tinha destruído o tempo, e fazia jogos com os objectos pelos quais nós regulávamos o tempo. Olhava muitas vezes de fugida para o meu relógio, para só deparar com os ponteiros substituídos por rigorosos tufos de hera ou madressilva que, enquanto eu os fixava, avançavam serpeantes até cobrir e assim esconder todo o mostrador. Brincadeiras com relógios de pulso e de parede eram expedientes favoritos seus, pois desse modo bem nos convencia e atirava à cara como tinhamos deixado de ter em comum uma estrutura temporal." (29)
flkgçlfkg
Não lhe mentira. Ela era de facto o seu instrumento. Era curioso como a vida tomava sempre um sentido muito próprio, nunca semelhante àquele que lhe queremos dar, mas nem por isso desprovido de uma lógica desarmante e simples.
Nunca tivera ouvido nenhum para a música, apesar de os pais carregarem esse gene precioso no ADN conjunto, e agora dependia quase exclusivamente desse sentido para sobreviver.
Nunca aprendera a tocar nenhum instrumento, apesar de os pais respirarem música. E agora ali estava ele com um instrumento precioso nas mãos, destinado a ser afinado por si até à perfeição.
fgklºçlfkºg
Ao longo dos dias dispusera-se, lentamente e com uma paciência que desconhecia ter, à empolgante tarefa de lapidar um diamante em bruto. Emily era um brinquedo novo, um brinquedo para um homem habituado toda a vida a ter brinquedos caros e aborrecidos, dos quais se cansava rapidamente. Sem nada para fazer todo o dia, a não ser pensar nas mil e uma formas de se matar, Johann passou a esperar ansiosamente a chegada dela todos os finais de tarde. Durante o dia arquitectava planos para as sessões de leitura, escolhia mentalmente os livros que melhor se adequavam à voz dela e revia as sessões anteriores que gravava secretamente.
ºfglºçflgºçf
"Down by the salley gardens my love and I did meet;
She passed the salley gardens with little snow-white feet.
She bid me take love easy, as the leaves grow on the tree;
But I, being young and foolish, with her would not agree.
In a field by the river my love and I did stand,
And on my leaning shoulder she laid her snow-white hand.
She bid me take life easy, as the grass grows on the weirs;
But I was young and foolish, and now am full of tears." (30)
ºçlfºdçlfçflgºçlfg
Ouvia-as até à exaustão. Dias havia que adormecia embalado pela sua voz lamurienta mas que, a pouco e pouco, ia ganhando uma tonalidade cada vez mais forte e segura, como um belo botão de flor que desabrochasse.
Uma noite surpreendeu-se a procurar debaixo do cobertor com a mão febril o seu próprio sexo, enquanto a ouvia nos auriculares. Desligou subitamente o botão e permaneceu imóvel durante muito tempo, assustado consigo próprio. Depois do acidente não voltara sequer a pensar em sexo daquela maneira. Claro que pensara e desesperara com a sua incapacidade aparentemente definitiva. Mas nunca chegara ao ponto do desejo, como naquele momento.
Percebeu que ela o fazia esquecer-se de querer morrer. Aquela pindérica e a sua voz surpreendentemente bela. Aquela pindérica que o chamara de aleijadinho e depois tivera o descaramento de lhe vir pedir desculpa, como se quisesse obrigá-lo a entrar num qualquer drama barato de culpa e arrependimento. Claro que não lhe dera a satisfação da resposta e ela percebera imediatamente e calara a sua linda boquinha.
Por vezes, durante as sessões, surpreendia-se a tentar imaginá-la fisicamente, os seus movimentos enquanto lia, a forma como a sua boca se abria e fechava, o ângulo da sua cabeça. Certamente penderia para um dos lados, como todos os estúpidos que vêem a vida através de óculos de lentes cor-de-rosa.
ºfkgçlfkg
"Perto do local onde morava vivia uma verdadeira camponesa, por quem anteriormente tinha tido uma certa inclinação, embora se acredite que ela nunca tenha sabido nem sequer considerado tal coisa. O seu nome era Aldonza Lorenzo e era esta quem ele considerava que podia habilitar-se à soberania do seu coração …" (31)
lfkgçlfkg
Outras vezes distraía-se a tal ponto a tentar imaginar como é que ela bambolearia o corpo ao andar (não devia ter graça nenhuma) que tinha de lhe pedir que repetisse. A tontinha devia pensar que ele gostava particularmente desse trecho, porque o repetia com uma convicção patética.
Ouvia-a soltar-se dia após dia, ganhar confiança e voar sozinha. Descobriu que a paciência dava frutos, quando bem doseada, e congratulou-se com essa descoberta como um cientista se congratula com a inusitada conclusão de uma fórmula matemática, que subitamente combina todas as componentes de uma teoria de forma lógica e bela.
ksçdkçkld
(29) As Infernais Máquinas de Desejo do Doutor Hoffman - Angela Carter; (30) Down By The Salley Gardens - W. B. Yeats; (31) Don Quixote - Miguel de Cervantes Saavedra

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

WINGS OF WILL XXVII ....................................... Quem disse que o homem não consegue voar?

Porque nunca é demais ver este homem dançar, seja o que for ...
jflkjg
Por favor aperte o cinto e ... fique um pouco tonto com as 11 piruetas e o talento infinito de Mikhail Baryshnikov:

kfçlk
kgfçldkg

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

PALAVRAS EMPRESTADAS 33

"Acredito que hoje em dia mais do que nunca um livro deva ser procurado
mesmo que contenha apenas uma grande página.
Devemos procurar fragmentos, lascas, unhas, tudo o que tenha valor em si,
tudo o que seja capaz de ressuscitar o corpo e a mente."
ºklgfçlkggkjlfjg
Henry Miller (Trópico de Câncer)



segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

EM BUSCA DE PALAVRAS 5

AVISO: Este post é de leitura interdita a menores de 18 anos ou a pessoas sem o mínimo de bom senso ou senso de humor dentro da tola
ÇLÇLF
A Melhor Amiga de Um Sniper – Parte IV
JKJF

FÇLºÇLF
Sexta Conclusão: Na minha cabeça, havia já decidido que a personalidade do meu sniper teria de apresentar algumas características um pouco diferentes do comum dos mortais. Agora, observando o exemplar que tinha nas mãos, as palavras "infinitamente paciente", "seguro", "calmo", "ponderado" surgiam naturalmente na minha mente ... bem como a expressão "com um ou dois parafusos fora do sítio" ...
Sétima Conclusão: Pode parecer completamente ridículo, mas segurar uma arma destas nas mãos oferece-nos uma experiência que tem o seu quê de místico - consigo perceber a relação muito supersticiosa que um sniper estabelece com a sua arma, porque não se trata de uma arma qualquer – digamos que a espingarda (e claro que depende também do modelo da espingarda) é a princesa das armas;
Por este motivo, e ao contrário de uma pistola, com a espingarda a relação estabelecida é de parceria e nunca de posse – na pistola pega-se e pronto, é minha; na espingarda, existe todo um ritual de adaptação física - a posição do corpo não é das mais cómodas, a respiração tem que ser controlada na altura do disparo, a concentração no alvo através da mira deve ser absoluta, a segurança das mãos tem que ser trabalhada, o peso nos braços é considerável - este processo não permite uma “posse” absoluta, tem que haver adaptação do humano ao objecto e vice-versa; ou seja, uma espingarda nunca se deixa possuir, tem que ser conquistada, lenta, pacientemente, com paixão, sabedoria, instinto e experiência.
Esta conclusão foi consolidada por um dado importante referido pelo meu conselheiro de serviço: na carreira de tiro, os que usam pistolas são apelidados de "malucos" pelo pessoal das espingardas; estes, por sua vez, são capazes de demorar longos minutos em posição de disparo, antes de premirem sequer o gatilho, num ritual que enerva qualquer um que esteja a observar.
kfçldk
Depois de ter estado cerca de uma hora a transportá-la de um lado para o outro para lhe tirar fotografias de todos os ângulos de que me lembrei, de lhe ter examinado todos os pormenores minuciosamente e de a ter levantado não sei quantas vezes para simular disparos e sentir a adaptação das suas formas às minhas, tinha os braços completamente destruídos (não é só o meu personagem quem precisa de exercício ... estou perra ...).
Elevá-la no ar na posição de disparo durante mais de 10 segundos era um exercício impraticável e o meu respeito por snipers de guerrilha aumentou consideravelmente. Observei-a durante longos momentos e percebi uma série de coisas sobre o meu personagem que sozinha nunca teria conseguido.
E ouvi-a sussurrar-me: “não sou tua ...”; pois não, pensei, não és, mas uma das tuas primas será unha e carne com alguém que eu estou a criar.
E ouvi-o sussurrar-me: "Agora percebes um pouco melhor ... Continua ... Ainda há muito para aprender ..."

Por isso, não perca o próximo episódio de “A Melhor Amiga de Um Sniper” ;)

domingo, 6 de janeiro de 2008

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 18 (cont.)

Capítulo 5. CORRESTE POR MINHA CASA DE MADEIRA
kdfçldkf
Abriu uma gaveta e retirou um aparelho. E depois a sua voz encheu a sala. Uma voz suave, lenta e hesitante. Emily fez uma careta de horror.
çklçdklg
"E seria Mr Rochester agora feio aos meus olhos? Não, leitor: a gratidão e muitas associações, todas elas agradáveis, tornavam o seu rosto o objecto que mais me agradava observar; a sua presença numa sala era mais alegre do que a lareira mais brilhante. No entanto, não esquecera os seus defeitos; com efeito, não poderia, porque ele encarregava-se de os revelar na minha presença frequentemente. Era orgulhoso, sardónico, duro com a inferioridade de qualquer natureza: na minha alma secreta eu sabia que a sua enorme bondade para mim era equilibrada com severidade injusta para muitos outros. Também era de humores, muitos; mais do que uma vez, quando me mandava chamar para lhe ler, encontrei-o sentado na sua biblioteca sózinho, com a cabeça repousada sobre os braços cruzados; e, quando me fitava, uma sombria, quase maligna carranca enegrecia o seu semblante. Mas eu acreditava que os seus humores, a sua aspereza e os seus anteriores defeitos de moralidade (digo anteriores, porque agora parecia tê-los corrigido) originavam em alguma cruel cruz do destino. Acreditava que ele era naturalmente um homem de melhores tendências, princípios mais elevados e gostos mais puros do que os desenvolvidos pelas circunstâncias, instigados pela educação ou encorajados pelo destino. Achava que nele residiam excelentes materiais; e pensava que presentemente eles se encontravam suspensos, de algum modo corrompidos e confundidos. Não posso negar que me afligia com a sua mágoa, fosse ela qual fosse, e teria oferecido muito para a atenuar.” (27)
jkjfdgfdkl
Depois John carregou num botão e o registo mudou. Emily nem queria acreditar. Era a sua voz. Mas era uma voz que ela não reconhecia, de algum modo. Uma voz quente e enriquecida, cheia de pequenas entoações diferentes, que provocava emoções.
flkgfçlkg
"O espaço e o tempo estão interligados. Não podemos olhar para o espaço sem olhar para o tempo que passou. A luz desloca-se muito rapidamente. Mas o espaço está vazio e as estrelas estão muito afastadas. Distâncias de 75 anos-luz ou inferiores são muito pequenas, em comparação com outras distâncias da astronomia. O Sol dista 30 000 anos-luz do centro da Galáxia da Via Láctea. Da nossa Galáxia até à mais próxima galáxia espiral, a M31, também na constelação de Andrómeda, vão 2 000 000 de anos-luz. Quando a luz que hoje vemos proveniente da M31 partiu em direcção à Terra, não havia seres humanos no nosso planeta, embora os nossos antepassados estivessem a evoluir rapidamente no sentido da nossa forma actual. A distância da Terra até aos quasares mais longínquos é de 8 ou 10 mil milhões de anos-luz. Vemo-los actualmente tal como eram antes de a Terra ser constituída, antes da formação da Via Láctea." (28)
lfºçdlf
"É a minha voz …"
"Pode-se orgulhar dela. É uma excelente voz."
"Posso-lhe fazer uma pergunta?"
"Pergunte."
Pigarreou. Depois lembrou-se de um comentário que ele fizera quase no início:
"Pigarrear pode ser sensual na voz da Melanie Grifith, mas na sua parece que engoliu um sapo."
Sorriu.
"Porque é que me contratou se a minha voz era … era …", uma porcaria.
"Uma lástima, sim. Porque há vozes que são lástimas e não há nada a fazer. Sê-lo-ão sempre, mesmo que as tentemos aperfeiçoar. Defeito de fabrico. O meu pai era violinista. Das poucas coisas que me lembro dele é de uma frase que costumava dizer: 'Um bom instrumento pode ser sempre afinado até atingir a precisão total. Um instrumento mal fabricado não vai lá nem com mil afinações. Defeito de fabrico.' Até Deus tem os seus maus dias. No seu caso, ele estava inspirado. "
lçkfçldfkg
Percebia agora que sem se dar conta, durante aqueles dois meses de leituras, John fora afinando não só a sua voz como tudo o resto. Ele mudara a sua maneira de ver o mundo, tornara-a mais requintada, mais segura, mais sintonizada com as suas ambições. Até a sua maneira de vestir se modificara.
Sem reparar, os seus modos e a sua maneira de estar haviam-se moldado àquela casa, onde as pessoas tacteavam o chão de mármore em bicos dos pés e o chá era servido religiosamente às sete e meia com rodelas de limão espetadas em palitos, em chávenas de porcelana inglesa que ela tocava com mil cuidados, tentando pousá-las nos pires tão silenciosamente como ele fazia, mesmo sem ver a distância que separava as duas metades porque esse ritual lhe era tão familiar como para ela era natural respirar.
Só se apercebera da sua mudança quando Steve a viera visitar e olhara para ela com desaprovação:
"Estás diferente."
"Achas?"
"Sim, estás … estranha. Dantes não te vestias assim …"
Mirou-se no espelho. O dinheiro que recebia das leituras permitira-lhe enriquecer o parco guarda-roupa com algumas saias mais atrevidas e um casaco decente e quente de gola de pêlo.
"Não gostas?", piscou os olhos como vira Amanda fazer dezenas de vezes aos professores que se lambuzavam pela sua atenção.
"Emily … este lugar não é teu …"
"Oh! Steve, por favor. Quando é que vais perceber duma vez por todas que este lugar é onde eu quero estar?"
"Até a tua maneira de falar mudou … Caramba, Emily …"
Ao voltar para casa no dia seguinte fora acometida por uma súbita dúvida - um dia aquilo ia eventualmente acabar. Tudo tem um fim. Ou será que iria ler para ele o resto da sua vida?
jfdkjkfl
(27) Jane Eyre – Charlotte Brontë; (28) Cosmos - Carl Sagan