segunda-feira, 3 de novembro de 2008

MURMÚRIOS DE LISBOA LXXIV

O menino-Homem
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Jardim Botânico da Ajuda - Fonte
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O rapaz dos olhos adultos olha em frente. E o seu rosto traz as marcas de um tempo que não começou há muito tempo, mas que parece já o de uma longa vida em que o tempo foi esquecido porque se gastou. Não são as marcas vincadas da pele a que chamam rugas, mas um peso opressivo que franze a expressão do rosto sem que nenhum músculo se tenha de contrair.
E o menino com olhos de Homem olha em frente, para a estrada que ainda não chegou, mas os seus olhos reflectem em dois espelhos opacos os caminhos turtuosos por onde já passou.
E o menino-Homem tem marcados nesses olhos coisas de que nunca fala. Coisas que guarda dentro de si, como um tesouro terrível e venenoso. Coisas que ninguém deve saber. Porque há coisas que não se podem explicar. Coisas que ninguém pode entender.
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E o menino-Homem ainda não sabe que um dia, algures, alguém, num futuro incerto dessa estrada que ainda não chegou, vai querer conhecer esse terrível tesouro escondido dentro dos seus olhos opacos e das marcas que o tempo esquecido e gasto lhe deixaram no rosto. Ele não sabe, porque pensa ainda que poderá esconder de todos o seu tesouro. Mas um dia ... um dia o menino-Homem quererá fugir de alguém, algures, que lhe toma o coração de assalto, mas também lhe quer abrir as entranhas para limpar as feridas antigas.
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O menino-Homem olha em frente, agora, essa estrada que ainda não chegou, e não vê ninguém. Apenas o asfalto e as suas memórias. Estão sempre com ele, quer as invoque ou não. Memórias que nenhum menino devia ter. Que qualquer menino devia poder esquecer, ainda que as tivesse. Estão gravadas com o implacável carvão da vida nos seus olhos de Homem e no seu rosto demasiado sério e demasiado cansado e demasiado velho, para um menino ter.
O menino-Homem teve de enfrentar muitas vezes um Homem maior que ele. Foram tantas as vezes, que já lhe perdeu a conta e todas as vezes se transformaram apenas num longo rio ininterrupto, onde o tempo nunca pára e é sempre igual.
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Foi isso que vi nos olhos do menino-Homem, com os olhos de quem já foi um dia uma menina-Mulher.

1 comentário:

Dry-Martini disse...

Assim muito muito de fugida :( é só para lhe dizer que já está desafiada .)

Depois comento o post devidamente...

XinXin