sábado, 22 de novembro de 2008

Passo os dedos pelo dicionário ao acaso e aterro em ...

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Azulejo na Quinta da Regaleira
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Arrecadar um beijo. Peter pensava que os beijos eram coisas que se trocavam e estendia a mão para os arrecadar. Wendy ensinou-lhe isto, porque teve medo de o ofender e assim Peter ficou a pensar que os beijos eram dedais e que os dedais eram beijos.
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Encobrir uma mentira. Com outras mentiras. Até não sabermos mais onde acaba a primeira mentira e começa a última. O melhor mentiroso, dizem os que sabem, é aquele que acredita na mentira que engendrou, como se fosse a verdade. Mas uma mentira traz sempre um rol de outras atrás, como um novelo em redor de cuja ponta se enrola uma extensão de lã bem apertada, idealmente sem espaço para incongruências.
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Esconder um segredo. Terrível ou não. Tapá-lo com terra e deixá-lo lá ficar mil anos ou gritá-lo para dentro de uma árvore, como se faz por terras da seda. Deixá-lo criar raízes dentro de nós e espalhar-se como arteríolos até nos envolver num abraço mortífero e sufocante como uma piton sedenta de sangue. O nosso. Segredo.
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Guardar um tesouro. De outro. Tomar conta dele como se toma conta do pelo sedoso de um gato persa e alimentá-lo com os murmúrios da saudade do seu dono. Ouves? Ouves o seu brilho nos meus olhos? Sentes o restolhar de cem vozes na tua pele, silabando devagar o seu nome. O nome do tesouro. Guardei-o para ti. Ninguém pode tocar nele. Nem eu.
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Recolher uma carta do correio. Para mim. Como já não se escrevem. Cheia das letras que já não se desenham. Perfumada com o cheiro secreto da tua transpiração. Rasgada pela ponta de tinta azul de um frasco de vidro minúsculo trazido de uma esquina de Veneza. Selada com a tua língua. Com a tua saliva. A mesma que soletra o meu nome sem que eu o possa ouvir. Ainda.

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